PROPAGAÇÃO DE ONDAS E ALCANCE

DX – A DX é, como sabem, comunicação de longa distância. Fazer DX é, portanto, contactar, com o nosso equipamento, alguém do Brasil… É possível ? Existem grandes possibilidades de que a DX aconteça; bastam as condições serem as ideais e um pouco de paciência. Quando ela acontecer é quase certo que não sereis escutados a curta distância. Para compreender bem este fenómeno, é preciso ter algumas noções de propagação de ondas; em seguida, será necessário tentar a sua sorte para conseguir o seu primeiro DX com um país longínquo…

NOÇÕES DE PROPAGAÇÃO – Acontece frequentemente que um novato peça, da maneira mais séria do mundo : ” QRZ à estação que fala americano no canal 11 ?”. De que é que se trata ? De um turista ? De um aldrabão ? De facto esta voz vem mesmo das Américas. Coloquemos uma antena, num ponto qualquer da Terra; e vamos supor que a antena é omni-direccional, isto é, emite em todas as direcções. Uma parte destas ondas vai propagar-se directamente em linha recta, mas estas ondas são fortemente influenciadas por todo o tipo de obstáculos: casas, montanhas, grandes estruturas…, e a terra absorvê-las-á, particularmente na proximidade da antena. É este tipo de propagação que caracteriza as comunicações locais, e podem compreender agora porque se aconselha que monte a antena o mais alto possível. A este tipo de propagação se chama de propagação directa. (Ver fig. 1)

PROPAGAÇÃO POR REFLECÇÃO – A segunda maneira de propagação das ondas é subindo até à atmosfera. Uma parte do sinal é reflectida para o solo por certas camadas da estratosfera. Sabemos actualmente que as camadas atmosféricas possuindo propriedades tão úteis se situam entre os 100 e 400 km do solo. As moléculas de gás que as compõem “ionizam-se” em certas condições, como no momento da travessia dos raios solares conjugada com uma alta da pressão atmosférica (daí a razão da baixa quase drástica do QRN durante a noite, bem como da probabilidade de se conseguir uma DX). Está provado que as ondas electromagnéticas são “aceleradas” num gás ionizado em relação ao seu comportamento no vazio: produz-se então um fenómeno “de espelho”, isto é, as ondas que emitimos são reflectidas para a superfície terrestre. A este “ricochete” é chamado de skip. (Ver fig. 2)

ALCANCE – O sitio exacto onde as ondas “caem” não pode ser calculado com precisão: tudo depende da altura da camada reflectora. Em alguns minutos, podem tomar contacto com um correspondente de Paris ou São Paulo e serem ouvidos na Argentina! Notemos também que um contacto é frequentemente estabelecido graças a diversos “SKIPS” e que o fenómeno mais bizarro a que um cibista pode deparar é ouvir-se a si próprio com um ligeiro atraso: as ondas fizeram então a volta à terra e voltaram ao ponto de partida. É preciso notar que este fenómeno é extremamente raro. Enfim, não esqueçamos que uma actividade excepcional do sol influencia fortemente a DX, logo o alcance. O ano de 1980 foi extremamente fértil em erupções solares de todas espécies e muitos cibistas verificaram uma recrudescência dos períodos de boa propagação! Estas erupções seguem um ciclo de frequência de 11 anos. Espera-se um novo ciclo no ano de 2002.

AS CAMADAS DA ATMOSFERA – No parágrafo da propagação por reflecção falámos de que a DX dá-se quando as ondas reflectem numa camada situada sensivelmente entre os 100 e 400 km do solo. Existem, porem, outras camadas da atmosfera com propriedades de boa condução das ondas electromagnéticas, as quais passamos a descrever no quadro seguinte:

CAMADA DSituada entre os 70 a 80 km de altitude, absorve as ondas que correspondem a frequências inferiores a 27 MHZ. Este efeito é neutralizado na ausência de radiação solar. 
CAMADA ESituada entre os 100 e 130 km de altitude, caracteriza-se por propriedades de refracção importantes. Permite captar as estações europeias no território português. A reflexão pela camada E é no entanto mais esporádica.
CAMADA FSituada acima da camada anterior até aos 4000 km de altitude, possui, na presença de uma forte actividade solar, grandes qualidades de refracção. Estas permitem ligações intercontinentais, mas têm por vezes o inconveniente de deformar a modulação. A CB são “servidas” entre esta camada e a anterior (como foi dito entre os 100 e 400 km)

DX: COMO PROCEDER? – Para conseguir um DX, não é preciso, como pensam muitos cibistas, uma potência desmedida. Tive, não faz muito tempo, uma conversação descontraída com um Brasileiro muito simpático. O meu material na altura? Um emissor de 40 canais, 5 watts AM, 12 watts P.E.P. em SSB, e uma antena de 1/2 de onda a poucos metros do chão. O correspondente emitia com 200 watts e uma antena direccional, e o seu relatório ou QRK semelhante ao meu! Como assim…? Um primeiro conselho: não permaneçam nas frequências inferiores utilizadas em “local” e terrivelmente sobrecarregadas. Subam pelo menos ao canal 30 para não incomodar os vossos pequenos camaradas. Aliás, as DX, mesmo a nível internacional, são tentadas no canal 34 em LSB e adjacentes. Em seguida esperem pela propagação, isto é, que a mesma “abra”. Desde que recebam emissões do estrangeiro ou das ilhas as condições são, em regra, boas. Procurem um canal pouco sobrecarregado pois é inútil tentar um QSO em canais que já estão ocupados com outros QSO. Tentem de preferência em SSB, se a tiverem, senão, em AM, pois, também não é impossível estabelecer um contacto nesta banda. Depois chamem, identificando-se e dizendo, logo à partida o país e cidade onde se encontram. Não precisam de chamar uma estação em concreto, bastando dizer que pretendem um contacto e que passam à escuta. Como exemplo: ” CQ – CQ – CQ DX – a estação (como exemplo…) LUSITÂNIA CB por Loures, Portugal, solicita o canal … e passa à escuta !”. Depois é esperar alguns segundos a ver se obtêm resposta. Repetir ou, caso não obtenham mesmo depois de duas ou mais tentativas, mudem de canal e tentem noutro canal. Para finalizar recomendamos que tenha sempre à mão papel e uma caneta para apontar “no caderno” os dados dos vossos correspondentes e relatórios dos QSO. Não se esqueçam de tentar a troca de QSL entre vocês…

A SOLETRAÇÂO – Para facilitar a transmissão e recepção dos variadíssimos dados que eventualmente queiram trocar entre si, aconselha-se o uso do código Q (ver Glossário deste site) e a soletração de cada nome e de cada numero. Para nomes usem o alfabeto internacional (ver GLOSSÁRIO), repetindo duas vezes cada letra. Exemplo: – para soletrar PARIS: papa, papa, alfa, alfa, rómio, rómio, india, india, sierra, sierra. Para soletrar números, por exemplo, 71, devem dizer seven, seven, one, one.

PARA TERMINAR – Repetimos mais uma vez que a ouvir é que se aprende. A escuta é talvez tão importante como o falar. Desconfiem dos aldrabões: nada mais fácil que arranjar um sotaque espanhol ou italiano para tentar enganar, especialmente, os mais novos na banda. Com a experiência hão-de os conseguir distinguir e não se deixar enganar por esses brincalhões.

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Nome da rádio: Radio Lusitânia CB